25 maio, 2007
Ilma Rosa
Lorena: Qual o seu nome?
Senhora: Ilma Rosa de Oliveira
Assim que obtive a resposta, percebi que a animação com a música não era pelo fato de gostar da Xuxa. Ilma parecia um pouco alcoolizada.
Lorena: Quantos anos a senhora tem?
Ilma: Tenho trinta anos.
Lorena: Sempre por aqui na praça?
Ilma: Moro no Siméria.
Parece não ter entendido minha pergunta.
Ilma: Minha mãe morreu e deixou uma casinha lá pra mim.
Lorena: E a senhora mora lá sozinha?
Ilma: Moro com meu menino de dezenove anos.
Lorena: Então você teve filho com onze anos?
Ilma: Nao, tive com...quatorze.
Lorena: Então você tem trinta e três? Ilma começa a rir. A senhora nasceu aqui em Petrópolis?
Ilma: Sim, nasceu todo mundo aqui. Tem ele e tem a menina de dezesseis anos.
Parece estar respondendo a outra pergunta...
Lorena:E a senhora gosta de vir aqui à praça?
Ilma: Eu adoro! Adoro o povo brasileiro.
Lorena: Você sempre vem aqui à praça dançar?
Ilma: Sempre, sempre.
Lorena: O que a senhora faz da vida?
Ilma: Eu sou cinco de fevereiro de sessenta e sete.
Mais uma vez, a reposta não condiz com a pergunta.
Lorena: Fevereiro...
Ilma: Nasci no dia do carnaval, adoro música.
Lorena: Qual a maior loucura que você já fez na sua vida?
Ilma: Nenhuma. Eu prefiro pedir as coisas pros outros. Roubar eu não roubo não, Deus que me livre.
Ilma parece ter levado minha pergunta em outro sentido.
Lorena: Mas a senhora não tem uma historia engraçada pra contar não?
Ilma: Isso aqui foi um tombo que eu levei, estava bêbada.
Mais uma vez, não ouvindo minha pergunta, mostra a enorme cicatriz acima dos lábios. Logo após, uma certa aproximação, no mínimo estranha. Resolvi ir logo.
Lorena:Muito obrigada pela entrevista, até mais!
Ilma: Aqui, vem cá, você não me arruma cinqüenta centavos pra eu tomar um café?
Realmente, preferi não arriscar colocar a mão no bolso. Disse que iria buscar e que voltaria...um dia, quem sabe!
Antônio
Cortando a praça, quase fui atropelada por um bode puxado por um senhor e, o melhor, o bode ainda levava uma criança numa carrocinha. Não bastasse isso, em cima do bode, uma cadelinha...Hilário! Óbvio, tratei logo de perguntar às pessoas da praça do que se tratava. A primeira resposta que recebi: “Artista da praça!” Fantástico! Vamos lá saber mais disso...mesmo com a música de fundo intensa, Xuxa, tentemos uma entrevista...
Lorena: Bom dia! Fiquei sabendo que o senhor é o dono do artista da praça. Pode me dar uma entrevista?
Senhor: Tem, ora. Esta aqui é ensinada, faz tudo aí na praça.
Senhor: Antônio.
Antônio: Sessenta anos.
Antônio: Docinha.
Antônio: Tem cinco anos.
Antônio: Não, tudo o que eu mando fazer ela faz.
Até busquei uma coerência na frase, mas realmente não encontrei. Talvez, pelo “Ilariê” de fundo.
Antônio: Olha a motinho dela aí.
Antônio: Anda, e anda a cavalo. Tem cavalo e tudo.
Aponta para o bode, ou cabrito, não sei. Sei apenas que cavalo não era. Sr. Antônio logo pede que eu filme Docinha, parece muito interessado em me mostrar tudo o que a cadela fazia.
Antônio: Anda de moto, skate, de bicicleta...
Antônio: Sim, todo, todo domingo.
Sr. Antônio coloca a cadela numa moto infantil, elétrica e a liga. A cadela nada mais faz que ficar parada em cima da moto que possui movimentos circulares, o que dá a impressão de que ela está andando sozinha.
Lorena: Sou de Belo Horizonte.
Antônio: Ah, eles filmaram ela aí, mais de uma hora,você não viu na televisão não?
Antônio: Filma ela, filma ela mais.
Novamente, coloca a cadela na moto para que eu filme. Depois, resolve colocá-la no bode e, claro, pede que eu a filme.
Antônio: Quer ver ela sentando no banquinho? Filma aí, filma aí.
Antônio: Pode, mas tem que ser ali no jardim.
No jardim, Sr. Antônio pediu que eu a filmasse novamente...Foi um pouco complicado ir para as fotos, até mesmo porque ele queria que eu tirasse foto apenas da cadela. Com um pouco de insistência, ele topou aparecer na foto.
Antônio: Vira-lata. Ei, você não quer filmar mais não? Filma ela.
João
Parece que a cidade acorda tarde, talvez pelos 15 ºC naquela manhã. Não estava vendo ninguém na rua, até que avistei um senhor sentado no banco da praça. Aproximei, na intenção de que ele conseguisse um bom ângulo para a foto esperada: eu e D.Pedro...meu amigão!
Mal respondendo meu bom dia, aquele senhor, que olhava fixamente para a estátua do imperador, começou a falar que estavam faltando dedos nas mãos da estátua. Perfeito momento para se ligar o gravador...
Senhor: Ali, olha, cadê o dedo ali? Um, dois três, quatro dedos. Tem que ter cinco dedos...
Lorena: É porque um está escondido ali, olha, dentro do livro.
Senhor: Não, não. [Mesmo sugerindo que o dedo indicador estivesse dentro do livro, o qual D. Pedro segurava, o senhor continuou com um ar de indignação, repetindo que estava faltando um dedo.] Ali na boca também, olha, está faltando.
Lorena: Ah, sim, parece que está faltando mesmo.
Resolvi seguir o famoso ditado, e não contrariar...
Senhor: Ali, olha, pode contar.
Já que propôs a idéia, convidei para que nos aproximássemos da estátua e contássemos os dedos. E uma entrevista não pode falar o principal, quase que ia me esquecendo...
Lorena: Qual o nome do senhor?
Senhor: João.
Lorena: João, o senhor mora aqui há muito tempo?
João: Sim, moro aqui tem muitos anos.
Não se mostra nem um pouco interessado nas minhas perguntas clichês. Os dedos de D. Pedro o incomodam...e ele persiste...
João: Olha aí, um, dois, três, quatro...está faltando.
Lorena: Mas, seu João, está dentro do livro.
João: Não, e eu custei a reparar isso...
João não consegue ver que o dedo está dentro do livro, e continua a falar da falta deste como se fosse uma grande descoberta.
Lorena: O senhor não quer me contar um pouco da história de Petrópolis não, já que mora aqui há muito tempo?
João: Fundamentalmente eu na sei não. Você não é daqui não, é?
Lorena: Não, sou de BH.
João: E onde é que é isso?
Lorena: Belo horizonte é a capital de Minas Gerais.
João: Ah, eu sou mineiro também. Mas sou criado aqui.
Lorena: O senhor nasceu onde lá?
João: Eu nasci lá em, em...Juiz de Fora. Mas aí é o seguinte, eu não entendo muito do movimento do começo de Petrópolis. Isso é pra uma pessoa que talvez nasceu aqui mesmo né...que foi criado aí, foi constituído dentro de Petrópolis para te falar...Eu vim pra cá com dezesseis anos.
Lorena: Tem quanto tempo que o senhor está aqui?
João: Eu to aqui desde...[Sr. João pensa durante alguns instantes] 1946.
Lorena: Então, já tem 60 anos?
João: Tem mais, tem mais o 7...estamos em 2007.
Lorena: Ah, sim, 61 anos.
João: Não, é 77 anos.
Conta estranha...
Lorena: 77 anos que o senhor está aqui?
João: Não, 67 anos. [Decidi não tentar confirmar mais; certamente mais um número diferente dos anteriores surgiria].Eu sou um cara que pode ser considerado cria da terra. Filho da terra né, porque eu fui praticamente criado aqui.
Praticamente? 67 anos...
Lorena: E a cidade sempre foi bonita assim, esta tranqüilidade?
João: Acha a cidade bonita?
Lorena: Acho, demais, tudo muito limpo, pessoas muito educadas.
João: Ah, é, aqui em Petrópolis é lugar mais, é, muito melhor de viver, de clima né, de ter boa saúde, limpeza...
Lorena: O único problema é o frio não é?
João: Mas isso é que dá saúde. A pessoa come bem, dorme bem, faz tudo bem, é ou não é? Faz tudo né, de acordo com o frio. Mas tem um problema, a vida aqui é muito cara.Aqui pobre pena, sofre, porque aqui é cidade turista, cidade de rico. Só gente de alta classe. Agora, São Paulo também é.
Lorena: Já morou em São Paulo?
João: Já, seis, cinco anos. Dentro da capital mesmo.
Lorena: Bastante diferente daqui, não é?
João: O clima de São Paulo é igual daqui, mesma coisa.
Lorena: Eu nunca estive em São Paulo não.
João: Ah, São Paulo é uma beleza.
Lorena: Eu tenho a impressão de que lá é um confusão, só chuva e engarrafamentos...
João: Não, São Paulo é identificada ao Rio de Janeiro. É igual ao Rio de Janeiro. Bonito assim, igual o Rio de Janeiro. Mas, na época que eu morei lá, era um lugar muito educativo, muito de respeito, todos respeitavam a pessoa bacana pra caramba [Lugar educativo? Não entendi...] mas, com o passar do tempo, veio as épocas né, modificando a capital. Capital agora ta um problema, ta pior que o Rio. De vez em quando eu vou lá em São Paulo, tem parente lá em Diadema, mas eu tenho medo de ir lá.
Lorena: Uai, por quê?
João: Uma vez quase fui roubado dentro do metrô. Sabe o que eu fiz? Tinha três caras assim, um olhando pro outro, aí eu fiquei de olho, mudei de vagão. Então, aquele tempo que eu morei lá era uma beleza. Parava assim numa esquina qualquer, vinha aqueles guardas né, aqueles guardas tudo cheio de revólver, de capacete, e perguntava, o que você está fazendo aí? É do interesse do senhor? Dá vontade de falar com eles né...
Lorena: E o senhor trabalha com o quê?
João: Padaria, padeiro. Não, agora eu sou aposentado! Nesse tempo eu era garoto novo, tinha vinte anos, agora estou com setenta e quatro.
Lorena: E depois de padeiro o senhor trabalhou com o quê?
João: Ah, aí eu vim trabalhar de motorista. Entregador de coisas né.
Lorena: Foi motorista por muito tempo?
João: Ah, três anos, quatro, depois fiquei desempregado, sai fora né, e depois foi difícil arrumar depois, daí eu comprei um carro pra mim, falo? Deixa eu ir lá que eu tenho que..
Sr. João ficou apressado, de uma hora para outra. Não o deixei ir sem a foto...
Lorena: Posso tirar uma foto do senhor aqui do lado de D. Pedro?
João: Ai, ai meu Deus.
Apresentou certa resistência no começo. Mas nada que elogiar seu terno não resolvesse. Arrumou a gola da camisa, e começaram as poses.
João: Eu vou pra minha igreja aqui agora, porque hoje é dia de Santa Ceia. Prazer em falar contigo e dar essa entrevista. Capricha no meu retrato lá.
Tentei até pegar o endereço do Sr. João para enviar uma foto, mas ele, desconfiado, não quis passar, respondendo que era para eu ficar com a foto de lembrança.
Por fim, acabei ficando sem minha foto ao lado de D. Pedro II. Sr. João disse que não sabia tirar fotos...
20 maio, 2007
Ruth Vitenverg
Senhora: Ruth, e o seu? Assim que respondi, emendou com outra pergunta. Você é daqui?
Lorena: Não, sou de Belo Horizonte, vim passar alguns dias aqui, e tirar algumas fotos para o blog onde posto entrevistas. Já respondendo à pergunta com a intenção de pedi-la algumas fotos, fui interrompida pelo Sr. Edno, da última entrevista, que surgiu do nada e começou a falar o nome de todos os bairros e praias do Rio.
Lorena: A senhora nasceu aqui no Rio mesmo
Ruth: Sim, sou carioca, mas sou filha de Polonês, meu pai é da Polônia.
Ruth: Não, não, eu sou daqui, nasci aqui, meu pai que é da Polônia.
Ruth: Ah, deve ser; mas lá vive sempre com guerra. Deus me livre. Meu pai veio do campo de concentração. Ai, pô, Deus me livre.
Ruth: É, da Segunda Guerra.
Sr. Edno aparece novamente, e entra no assunto.
Edno: Segunda Guerra? Meu pai também esteve na Segunda Guerra Mundial, ai ele ficou abalado, daí depois de algum tempo ele morreu e minha mãe ta recebendo a pensão dele em dobro, entendeu? Sr. Edno repete as palavras segunda guerra mundial várias vezes.
Ruth: Meu pai teve até um carimbo no braço, que carimbaram com fogo, dizem que não sai mais. Aquilo ali só com operação plástica. É porque ele é judeu, então ele perdeu muita família. Ai as pessoas que não podiam trabalhar, eles queimavam, colocavam dentro do gás carbônico.
Ruth: É, e ele perdeu muito parente, perdeu primos, que morreram queimados lá no gás carbônico.
Ruth: É, mas ele não conta, ele não se abre. Depois que ele veio pro Rio, quando a gente era criança, e morava lá em Brás de Pina, lá pra Penha, nossa, ele morava numa casa grande, e não podia escutar avião. Ele ficou traumatizado, achava que iam bombardear a casa.
Ruth: É, Vitenverg.
Ruth: Não. E o seu nome?
Lorena: Lorena Larissa Nicácio.
Ruth: Bonito nome, Lorena de Castro.
Acabei ganhando mais um sobrenome, “de Castro”...
Ruth: E você ta sozinha aqui? Sozinha e Deus?
Lorena: Sim, ninguém quis acompanhar...Ei, posso tirar uma foto da senhora com os seus cães?
Ruth: Ah, pode, claro, à vontade. Vai levar lá pra cima né, botar lá na internet?
Será que pensa que a internet vem “lá de cima”, ou referia-se a localização norte de BH?
Lorena: Isso mesmo.
Depois das fotos, Ruth perguntou mais sobre minha viagem ao Rio. Já estava tarde e tive que encerrar por ali mesmo. Agradeci Ruth e, quando fui procurar Sr. Edno, já havia sumido de novo...Esse pombo deve ter sido mais difícil...
Edno Barbosa
Lorena: Qual o nome do senhor?
Edno Barbosa
Edno: Sempre, sempre estou por aqui. Mocinha, é mocinha ela... Novamente, conversando com Catita.
Edno: Dois aninhos, né Nega?
Sr. Edno já passa a chamar Catita de Nega, em vez de Puguinha.
Edno: É, levei ela pro carnaval lá.
Edno: Ela gostou, não se assustou não. Não se assustou não. No carnaval lá, ai eu com o tamborim, sabe o que é tamborim né? [Após achar que eu não sabia o que era tamborim, Sr. Edno continua repetindo suas falas constantemente, e muito rápido, além de fazer perguntas as quais não nos dá tempo de responder...] Fiquei com o tamborim, batendo com o tamborim, e ela aqui [aponta para os ombros e começa a andar na rua, tocando o tamborim para encenar o momento] e me acompanhando no bloco lá e eu acompanhando aqui, e ela aqui, não caía não.
Edno: É, igual papagaio, e todo mundo tirando retrato dela, e filmando ela, assim, olha.
Sr. Edno com a cadela no ombro, continua a encenação do carnaval.
Edno: ...E eu com o tamborim aqui, tatatatata [Tenta reproduzir o som], e acompanhando o bloco. O pessoal fala assim, como é o nome dela? Ai eu falo, isso aqui é um cachorro fantasiado de papagaio, né Nega?
Edno: Ah, moro aqui há mais de quarenta anos, mais de cinqüenta anos.
Edno: É, moro aqui já tem muitos anos, aqui atrás na rua Santa Maura, moro na Santa Maura, né coisa linda? Fala com a cadela.
Edno: Eu sou de Sergipe, Aracaju, mas moro aqui, tem muitos anos aqui.
Edno: Ora, porque eu vim, porque eu vim. [Sorri como se minha pergunta tivesse sido péssima.] Todo mundo nosso lá tava vindo pra cá, aí eu vim, eu vim e to aí né.
Sr. Edno começa a falar mais rápido que o normal, e novamente não ouve o que realmente pergunto.
Edno: Já trabalhei dirigindo ônibus, caminhão, carreta, ambulância, já trabalhei com isso tudo. Agora to aposentado, to aposentado e to só com a Puguinha, passeando.
Edno: Não, não tem medo não. Quer pular, não vai pular não, pular vai machucar tua perninha.
Edno: Não, é Catita, mas botei o apelido dela de Puguinha, né Puguinha?
Edno: Cadê o pombo? Olha lá, o pombo, vai lá Puguinha. Quando eu falo “Vai, vai”, aí ela vai, olha.
Sr. Edno fica um bom tempo falando para a cadela ir atrás do pombo.
Edno: Só tenho ela só, e chega. Só tem essa só, e chega!
Edno: Não, mas eu fico de olho nela, rapaz, fico de olho nela pra ela não se perder, nem ela se perder de mim e nem eu perder dela. Ela fica assim, toda hora olhando pra mim, toda hora olhando pra mim, toda hora fica olhando pra mim, né Nega? Cadê o pombo, Nega? Cadê? Cadê o gato?
Realmente não sei onde ele estava vendo gatos...
Edno: Não, não, não pode. Uma que ela já entrou na faca já. Levei ela pra “secrestrar”, secrestar não, é como que é?
Edno: É, levei ela pra castrar, ai não pega mais não, não pega mais cria não. Não entra no cio e num pega filho não. E quando o cachorro chega perto dela assim, quando o cachorro vê que ela é “feme”, quando começa a dar volta assim depressa, ela vem e pula pro meu braço. Ela vai e cheira o cachorro, o cachorro cheira ela, daí quando o cachorro vê que ela é feme, quando começa a dar volta nela assim depressa, ela vem e pula pro no meu braço. Sr. Edno pega Puguinha no braço. Ela é pesadinha, olha ai, pega pra você ver.
Puguinha fica alguns segundos comigo e volta logo para o dono.
Edno: Quando a pessoa pega assim depressa, ai ela pula pro meu braço, fica pensando que a pessoa vai levar ela. Cadê o gato Nega? Cadê o pombo?
Edno: Vamos.
Aproximando do lugar para a foto, uma senhora com dois cães se aproxima.
Ruth: É filhote?
Edno: Não, isso aí é bacê misturado com vira-lata, isso aí não cresce mais que isso não.
Novamente, Sr. Edno não entende a pergunta.
Ruth: Essa daqui tem três, esse daqui ta com dois anos e quatro meses. Eu achei que fosse filhotinho. Refere-se a Catita. Achei que fosse filhote porque ela tem brincadeira de criança.
Ruth: Sou.
Sr. Edno continua falando sem parar, e todos entretidos com os três cães, até quando estes começam a brigar.
Edno: Não pode brigar não, não pode brigar não, não pode brigar não! Repete incansavelmente com os cães e, de uma hora para outra, volta-se a mim: E você, não é daqui do Rio não?
Edno: Ah, Minas Gerais. Logo começa a contar o caso de Catita no carnaval para Ruth. Tudo de novo e, o mais interessante, com as mesmas palavras com as quais havia me contado.
Edno: Um dia no carnaval na Rio Branco, ela tava com o maior medo de se perder de mim, mas não sabia eu que tava com mais medo de me perder dela. Uma mulher parou o carro uma vez e me perguntou se eu queria vender ela. Moça, eu não vendo por dinheiro nenhum. O cara falou duvido que por mil real você não entrega ela. Não entrego não.
Lorena: Dois mil?
Edno: Não, não entrego não. Uma porque se ela levasse o cachorro ela ia ficar doente, ia sentir minha falta e ia morrer.
Ruth: Claro, não ia comer, é verdade. Ainda mais com dois anos. Bonitinha ela...Olha para Catita.
Edno: Nega, olha o pombo lá, vai Nega. “Pernacotó, vem aqui “Pernacotó”.
Sr. Edno começa a chamar Catita por mais um apelido, Pernacotó. Comecei a conversar com D. Ruth e, quando percebi, Sr. Edno e Catita já não estavam mais...provavelmente foram atrás de algum pombo, ou algum gato que, realmente , não estava por ali..
Quem faz isso?
- Lorena Nicácio, 20 - Estudante de Física e Fotógrafa de eventos sociais
- Samuel Lima,35 - Fotógrafo da "S2 Produções Foto & Vídeo"