20 maio, 2007

Edno Barbosa

Segundo dia de tour no Rio, em frente ao Museu do Catete, uma cena interessante: um senhor conversando com uma cadela como se fossem velhos amigos. Aproximei-me, claro! Se não uma oportunidade de entrevista, com certeza alguma outra coisa interessante viria dali. Não deu em outra...

Lorena: Qual o nome do senhor?
Edno Barbosa
Lorena: Ela sempre passeia com o senhor por aqui?
Edno: Sempre, sempre estou por aqui. Mocinha, é mocinha ela... Novamente, conversando com Catita.

Lorena: Quantos anos ela tem?
Edno: Dois aninhos, né Nega?
Sr. Edno já passa a chamar Catita de Nega, em vez de Puguinha.

Lorena: O senhor levou a Catita pro Carnaval?
Edno: É, levei ela pro carnaval lá.

Lorena: Mas ela gosta de barulho assim?
Edno: Ela gostou, não se assustou não. Não se assustou não. No carnaval lá, ai eu com o tamborim, sabe o que é tamborim né? [Após achar que eu não sabia o que era tamborim, Sr. Edno continua repetindo suas falas constantemente, e muito rápido, além de fazer perguntas as quais não nos dá tempo de responder...] Fiquei com o tamborim, batendo com o tamborim, e ela aqui [aponta para os ombros e começa a andar na rua, tocando o tamborim para encenar o momento] e me acompanhando no bloco lá e eu acompanhando aqui, e ela aqui, não caía não.

Lorena: Então, ela fica no seu ombro igual papagaio?
Edno: É, igual papagaio, e todo mundo tirando retrato dela, e filmando ela, assim, olha.
Sr. Edno com a cadela no ombro, continua a encenação do carnaval.
Edno: ...E eu com o tamborim aqui, tatatatata [Tenta reproduzir o som], e acompanhando o bloco. O pessoal fala assim, como é o nome dela? Ai eu falo, isso aqui é um cachorro fantasiado de papagaio, né Nega?

Lorena: E o senhor mora há quantos anos aqui no Rio?
Edno: Ah, moro aqui há mais de quarenta anos, mais de cinqüenta anos.

Lorena: Sempre aqui no Catete?
Edno: É, moro aqui já tem muitos anos, aqui atrás na rua Santa Maura, moro na Santa Maura, né coisa linda? Fala com a cadela.

Lorena: Já presenciou muitos carnavais aqui então?
Edno: Eu sou de Sergipe, Aracaju, mas moro aqui, tem muitos anos aqui.

Lorena: E por que o senhor veio pra cá?
Edno: Ora, porque eu vim, porque eu vim. [Sorri como se minha pergunta tivesse sido péssima.] Todo mundo nosso lá tava vindo pra cá, aí eu vim, eu vim e to aí né.

Lorena: Quantos anos o senhor tinha quando veio para cá?
Sr. Edno começa a falar mais rápido que o normal, e novamente não ouve o que realmente pergunto.
Edno: Já trabalhei dirigindo ônibus, caminhão, carreta, ambulância, já trabalhei com isso tudo. Agora to aposentado, to aposentado e to só com a Puguinha, passeando.


Lorena: O bom é que ela não tem medo de nada, não é?
Edno: Não, não tem medo não. Quer pular, não vai pular não, pular vai machucar tua perninha.
Novamente, conversando com a cadela, que queria descer de cima da lixeira.

Lorena: Mas, afinal, é Puguinha ou Catita?
Edno: Não, é Catita, mas botei o apelido dela de Puguinha, né Puguinha?

Lorena: E o senhor não te medo dela fugir não?
Edno: Cadê o pombo? Olha lá, o pombo, vai lá Puguinha. Quando eu falo “Vai, vai”, aí ela vai, olha.
Sr. Edno fica um bom tempo falando para a cadela ir atrás do pombo.

Lorena: E o senhor só tem ela?
Edno: Só tenho ela só, e chega. Só tem essa só, e chega!

Lorena: Mas é ruim, ela fica sozinha não?
Edno: Não, mas eu fico de olho nela, rapaz, fico de olho nela pra ela não se perder, nem ela se perder de mim e nem eu perder dela. Ela fica assim, toda hora olhando pra mim, toda hora olhando pra mim, toda hora fica olhando pra mim, né Nega? Cadê o pombo, Nega? Cadê? Cadê o gato?
Realmente não sei onde ele estava vendo gatos...

Lorena: O senhor não pensa em arrumar uma companheira pra ela não?
Edno: Não, não, não pode. Uma que ela já entrou na faca já. Levei ela pra “secrestrar”, secrestar não, é como que é?

Lorena: Castrar?
Edno: É, levei ela pra castrar, ai não pega mais não, não pega mais cria não. Não entra no cio e num pega filho não. E quando o cachorro chega perto dela assim, quando o cachorro vê que ela é “feme”, quando começa a dar volta assim depressa, ela vem e pula pro meu braço. Ela vai e cheira o cachorro, o cachorro cheira ela, daí quando o cachorro vê que ela é feme, quando começa a dar volta nela assim depressa, ela vem e pula pro no meu braço. Sr. Edno pega Puguinha no braço. Ela é pesadinha, olha ai, pega pra você ver.
Puguinha fica alguns segundos comigo e volta logo para o dono.
Edno: Quando a pessoa pega assim depressa, ai ela pula pro meu braço, fica pensando que a pessoa vai levar ela. Cadê o gato Nega? Cadê o pombo?

Lorena: Vamos tirar uma foto ali, em frente ao museu, o senhor e ela?
Edno: Vamos.
Aproximando do lugar para a foto, uma senhora com dois cães se aproxima.
Ruth: É filhote?
Edno: Não, isso aí é bacê misturado com vira-lata, isso aí não cresce mais que isso não.
Novamente, Sr. Edno não entende a pergunta.

Lorena: Ela tem dois anos já. E os seus? Quantos anos têm?
Ruth: Essa daqui tem três, esse daqui ta com dois anos e quatro meses. Eu achei que fosse filhotinho. Refere-se a Catita. Achei que fosse filhote porque ela tem brincadeira de criança.

Lorena: A senhora é daqui do Rio?
Fui logo perguntando, pelo sotaque diferente daquela senhora.
Ruth: Sou.
Sr. Edno continua falando sem parar, e todos entretidos com os três cães, até quando estes começam a brigar.
Edno: Não pode brigar não, não pode brigar não, não pode brigar não! Repete incansavelmente com os cães e, de uma hora para outra, volta-se a mim: E você, não é daqui do Rio não?



Lorena: Não, sou de BH.
Edno: E onde é que é isso?
Lorena: Minas gerais.
Edno: Ah, Minas Gerais.
Logo começa a contar o caso de Catita no carnaval para Ruth. Tudo de novo e, o mais interessante, com as mesmas palavras com as quais havia me contado.
Edno: Um dia no carnaval na Rio Branco, ela tava com o maior medo de se perder de mim, mas não sabia eu que tava com mais medo de me perder dela. Uma mulher parou o carro uma vez e me perguntou se eu queria vender ela. Moça, eu não vendo por dinheiro nenhum. O cara falou duvido que por mil real você não entrega ela. Não entrego não.


Lorena: Dois mil?
Edno: Não, não entrego não. Uma porque se ela levasse o cachorro ela ia ficar doente, ia sentir minha falta e ia morrer.
Ruth: Claro, não ia comer, é verdade. Ainda mais com dois anos. Bonitinha ela...Olha para Catita.
Edno: Nega, olha o pombo lá, vai Nega. “Pernacotó, vem aqui “Pernacotó”.


Sr. Edno começa a chamar Catita por mais um apelido, Pernacotó. Comecei a conversar com D. Ruth e, quando percebi, Sr. Edno e Catita já não estavam mais...provavelmente foram atrás de algum pombo, ou algum gato que, realmente , não estava por ali..

2 comentários:

Ricardo Montero disse...

Fico contente de ver meus parceiros das Alterosas estrearem este belíssimo blog. EU TINHA que ser o primeiro a comentar!!! Começaram com o pé direito: entrevista e fotos demonstram que sabem o que estão fazendo. Muito sucesso!

barbara disse...

gente, lorena, que blog super bacana! essa entrevista então, que delícia! donde surgiu essa idéia, criatura? beijão, tudo de bom procê! (bárbara, lá do mais... quando quiser, dá uma olhadinha no meu blog, beijão!)

Quem faz isso?

  • Lorena Nicácio, 20 - Estudante de Física e Fotógrafa de eventos sociais
  • Samuel Lima,35 - Fotógrafo da "S2 Produções Foto & Vídeo"