20 maio, 2007

Ruth Vitenverg

Assim que Sr. Edno, da última entrevista, foi atrás de sua cadela, comecei a conversar com esta senhora, que passeava pelo Catete com estes "belos" cãezinhos...

Lorena: Qual o nome da senhora?
Senhora: Ruth, e o seu? Assim que respondi, emendou com outra pergunta. Você é daqui?

Lorena: Não, sou de Belo Horizonte, vim passar alguns dias aqui, e tirar algumas fotos para o blog onde posto entrevistas. Já respondendo à pergunta com a intenção de pedi-la algumas fotos, fui interrompida pelo Sr. Edno, da última entrevista, que surgiu do nada e começou a falar o nome de todos os bairros e praias do Rio.

Lorena: A senhora nasceu aqui no Rio mesmo
Ruth: Sim, sou carioca, mas sou filha de Polonês, meu pai é da Polônia.
Lorena: Mas a senhora chegou a morar lá?
Ruth: Não, não, eu sou daqui, nasci aqui, meu pai que é da Polônia.

Lorena: Deve ser interessante morar lá não é? Um frio, bem diferente daqui...
Ruth: Ah, deve ser; mas lá vive sempre com guerra. Deus me livre. Meu pai veio do campo de concentração. Ai, pô, Deus me livre.

Lorena: Da Segunda Guerra?
Ruth: É, da Segunda Guerra.
Sr. Edno aparece novamente, e entra no assunto.
Edno: Segunda Guerra? Meu pai também esteve na Segunda Guerra Mundial, ai ele ficou abalado, daí depois de algum tempo ele morreu e minha mãe ta recebendo a pensão dele em dobro, entendeu? Sr. Edno repete as palavras segunda guerra mundial várias vezes.
Ruth: Meu pai teve até um carimbo no braço, que carimbaram com fogo, dizem que não sai mais. Aquilo ali só com operação plástica. É porque ele é judeu, então ele perdeu muita família. Ai as pessoas que não podiam trabalhar, eles queimavam, colocavam dentro do gás carbônico.

Lorena: Então, depois da Guerra, seu pai resolveu vir pro Rio?
Ruth: É, e ele perdeu muito parente, perdeu primos, que morreram queimados lá no gás carbônico.

Lorena: Então ele deve ter muita história pra contar...
Ruth: É, mas ele não conta, ele não se abre. Depois que ele veio pro Rio, quando a gente era criança, e morava lá em Brás de Pina, lá pra Penha, nossa, ele morava numa casa grande, e não podia escutar avião. Ele ficou traumatizado, achava que iam bombardear a casa.

Lorena: A senhora deve ter um sobrenome diferente não é?
Ruth: É, Vitenverg.
Lorena: A senhora tem filhos?
Ruth: Não. E o seu nome?

Lorena: Lorena Larissa Nicácio.
Ruth: Bonito nome, Lorena de Castro.
Acabei ganhando mais um sobrenome, “de Castro”...
Ruth: E você ta sozinha aqui? Sozinha e Deus?

Lorena: Sim, ninguém quis acompanhar...Ei, posso tirar uma foto da senhora com os seus cães?
Ruth: Ah, pode, claro, à vontade. Vai levar lá pra cima né, botar lá na internet?
Será que pensa que a internet vem “lá de cima”, ou referia-se a localização norte de BH?

Lorena: Isso mesmo.

Depois das fotos, Ruth perguntou mais sobre minha viagem ao Rio. Já estava tarde e tive que encerrar por ali mesmo. Agradeci Ruth e, quando fui procurar Sr. Edno, já havia sumido de novo...Esse pombo deve ter sido mais difícil...

Um comentário:

Unknown disse...

Já acompanho também o trabalho do Ricardo com o Vidas e Imagens e adoro esse tipo de iniciativa. Muito bom, pois traz uma visao mais humana e real do nosso povo.

Abraço.

Daniel
http://www.cravoecanelaphoto.com/blog/

Quem faz isso?

  • Lorena Nicácio, 20 - Estudante de Física e Fotógrafa de eventos sociais
  • Samuel Lima,35 - Fotógrafo da "S2 Produções Foto & Vídeo"